“…E FICÁMOS ASSIM EM SILÊNCIO MUITO TEMPO”

O Tempo de te contar segredos no fundo do coração

e caminhar contigo no limite entre o mar e a terra,

na luz da espuma que chega e parte

para me adivinhares pelas mãos

e ficarmos assim muito tempo,

para sempre como o silêncio num reflexo da lua.

"... And we stayed like that in silence for so long

The time to tell you secrets in the bottom of your heart

And walk with you on the border between sea and land,

In the foam's light that comes and goes

For you to discover me by the hands

And to stay like that for a long time,

Forever like silence in the reflection of the moon.

Ricardo Paula

Chegaram estes amigos do azul.

Bateram a porta e,o salão grande ficava maior com os silêncios,

como o branco das folhas ao sol,

o enorme silêncio branco,onde me comovem as mãos do meu avô,

nos gestos lentos,como uma festa,o olhar como uma maré.

Neste enorme espaço branco,a vida tem vista para o mar,adoro este regresso ,desta viagem ao fim da tarde,em silêncio,

e as meninas a saltarem à corda, e o eco no branco.

Da janela via o homem das mãos grandes,

sempre a semear de sol os espaços abertos na terra.

Os cães ladram ao longe,cada vez mais longe.

Adoro este cheiro a chá e prefiro os dias azuis.

Ricardo Paula

D.E.F.E.S.E.S Fine Arts Pr Agency

PR services for artists, writers and cultural institutions

El MAC LISBOA organiza la exposición de pintura de RICARDO PAULA “Llegaron estos amigos del azul”.

En esta exposición Ricardo Paula nos muestra su evolución constante, su búsqueda incansable, la intranquila calidad de su poética, que convierte cada momento en una reencarnación impredecible, un nuevo logro, un enriquecimiento constante.

La fuerza y la calidad de estas obras harán, con toda certeza, que Paula Ricardo ocupe un lugar importante en la pintura portuguesa por la excelencia de su trabajo que nos confirma su gran talento y sobre todo su increíble calidad plástica y creativa.

Pedro e o Lobo

Para a Luísa e para os meus filhos

Carolina, Marta, Matilde e Sebastião

Para os meus Pais, para os meus Tios, para a D. Alice, para o Sr. Porfírio,

para o Sr. José, para a D. Maria e para o Sr. Bento

Para os meus irmãos Pedros

Lulu, Melão, Gafanhoto, Miss Gorda e Zézinho ou Zé tretas

(Vou tentar explicar neste texto, que estive aqui e,

que conheci outro Prokofiev, o Sr. Bento)

- “ Vai lá Rapaz! ”

Parávamos nos dois degraus junto à porta de madeira que parecia patinada

de verde bronze fortaleza, como num monumento para outro mundo,

qualquer coisa que ficava noutro lado da vida; os vidros pela serradura acumulada,

eram opalinos como alabastro, para esconderem segredos,

no interior a serradura pairava no ar, coada pelos raios de sol que teimavam espreitar

pela janela, a traçarem linhas rectas no ar,

acotovelávamo-nos para ver quem tinha coragem para dar as boas tardes e,

pedir licença para entrar.

Na penumbra desta luz, que nunca mais vi, o Construtor de Sonhos, alto e magro,

lia-nos a alma nos olhos, lento, fazia um silêncio enorme, quase eterno,

que ecoava mil histórias no fundo dos castelos de madeira espalhados pelas bancadas.

Aguardávamos como estátuas de pedra a ladear a porta da oficina do S. Bento,

era a espera da frase que nos faria nascer outra vez e,

sair daquela cãibra do -“ trava! “…

e chegava de uma voz funda, o boa tarde, acompanhada de mais um silêncio encandeado pelo sol que nos deitava também um olhar e, por fim

- “ Vai lá Rapaz! “

Entrávamos em silêncio, ordeiramente e, sem projecto,

a arrojar o andar só com o peso da muita vontade de fazer tudo por tudo,

para mergulharmos num caixote ao fundo da oficina,

onde restos de madeiras com formas variadas aguardavam outros sonhos;

repetíamos este ritual vezes sem conta

- “ Vai lá Rapaz! “

Este amigo da nossa rua, “ O Sonhador”, deu-nos o projecto das espadas,

para nos safarmos nas batalhas, aperfeiçoou-nos o armamento,

até chegarmos às espingardas feitas com um triângulo para a coronha,

uma ripa para o cano e, um elástico para projectar as balas,

que eram pedrinhas ou caroços de azeitonas, (mais aerodinâmicos),

aumentando assim o alcance das armas.

Assim o Sr. Bento, “O Sonhador”, criou estes Pedros,

que abriram o portão com a confiança dos pais.

E ainda hoje oiço ao longe, todos os dias

- “Vai lá Rapaz! “

Corações de Papel

Afinal o Natal é cá,meu amor.

Uma tarde destas dei por mim,

como em miúdo à procura de um velho caixote onde guardo um velho presépio.

Uma tarde destas dei por mim,

à procura do resto das peças deste meu velho presépio

e a ter uma imensa saudade dos avós.

Uma tarde destas dei por mim dentro deste meu novo presépio,

a construir as peças que partiram de velhas só pela solidão da caixa,construí-lhes os corações em papel e a alma num luar embriagado,até cabermos todos no presépio,

uma tarde destas mudei o jardim e afinal o natal é cá meu amor.

Ericeira ,Novembro de 2006

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

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RICARDO PAULA

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